Non Dormo Ancora

KENOPSIA ACADÊMICA - LITERÁRIA

Igor Mendes - 26 de janeiro de 2024

Em alguns estudos elaborados recentemente tenho refletido sobre a presença humana em pesquisa sobre pessoas, reflito sobre, mas não apenas, em autocrítica, pois seja por comodidade ou ausência das coisas (tempo, recursos e capacitações) tenho infelizmente deixado isso de lado. 

A palavra "Kenopsia" de modo pragmático costuma retratar desde vagões de trens abandonados, um escritório fora de seu horário de funcionamento, uma escola à noite fora de seu período de aula. De modo artístico gosto particularmente de cidades vazias com a natureza presente retomando seu espaço, mas provavelmente deve existir alguma palavra específica para isso, e que desconheço. 

Além disso, a kenopsia nos traz algo interessante, esse vazio não é simples ausência de pessoas, não é como se todos amanhã retornassem, para além da ausência de pessoas, é a presença da própria ausência. A questão é que kenopsia nada mais é que a sensação de estar em um lugar vazio que cotidianamente deveria estar repleto de pessoas, a solidão do próprio lugar e a sua em harmonia (sem fazer juízo de valores, mas talvez não seja algo tão ruim).

Porém, ao adentrarmos o universo das pesquisas acadêmicas, confesso que essa mesma atmosfera me preocupa. Em determinados contextos, principalmente aqueles que envolvem pesquisas puramente teóricas, sinto a falta de algo. 

Seria incapaz de dizer que a pesquisa está incompleta, pois isso representaria sua não finalização, e bom, uma pesquisa pode estar finalizada sem levar em consideração as contribuições de pessoas, que essa mesma pesquisa se propôs a estudar. Não poderia dizer que são pesquisas mal feitas, pois muitas das que tive contato durante a vida acadêmica eram extremamente bem elaboradas e acuradas cientificamente.

Porém, sempre pude sentir ali esse vazio, ou melhor dizendo um hiper-vazio, a sensação de kenopsia, um texto que devia estar repleto de pessoas, porém não estão ali.