Non Dormo Ancora

OPINIÃO

Igor Mendes - 05 de novembro de 2023

Rafaela trazia lembranças cravadas no rosto, tristes e felizes, durante manhãs acompanhadas de chuva podia se observar paz naquele rosto, mas não falo sobre qualquer tipo de chuva, a chuva precisa obrigatoriamente ser não muito forte e não muito fraca, permitindo o escape de alguns raios de sol, mas não qualquer raio de sol, os raios de sol que contornam as nuvens não contam, precisam ser raios de sol que atravessam as nuvens carregadas de água, são raras essas manhãs chuvosas em que raios de sol escapam entre as nuvens carregadas de água, ontem foi uma dessas manhãs.

Independente do tipo de manhã comecei esta como qualquer outra, acordei cedo como de costume por volta das doze e trinta, se soubesse que iria chover teria configurado o despertador, infelizmente ainda não inventaram um que toca quando começa a chover, teria sido útil. 

Nos encontramos no bar do Túlio também como de costume às treze e catorze, não às treze e treze, não às treze e quinze, às treze e catorze. A manhã chuvosa já começava a se despedir, e a paz no rosto dela também, se soubesse que iria chover teria ficado toda a madrugada esperando a manhã chegar.  

— Tô te falando cara é completamente possível que uma minhoca sobreviva a uma queda de avião. 

— Porra, Rafaela! Não fode.

— Saiu em todos os jornais!

— E desde quando você acredita em alguma coisa noticiada no jornal? Ou melhor, desde quando qualquer pessoa acredita em alguma coisa noticiada no jornal?

— Essa é provavelmente a primeira e última notícia verídica, elas não têm ossos, é completamente plausível.

— Não acredito.

— Você não acredita porque nunca viu um tat…

— Porra a história do tatu de novo não.

— A opinião de alguém que nunca viu um tatu não pode ser levada em consideração.

(Rafaela é uma pessoa muito sábia)

— Eu já vi um tatu!

— Quantos?

— Sei lá, um.

— É uma quantidade muita baixa.

— Mas eu vi ele várias vezes e em dias diferentes.

— Se era o mesmo tatu só conta como um.