O QUE É INFORMAÇÃO? REFLEXÕES ATRAVÉS DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA
Igor Mendes - 10 de outubro de 2023
Não é novidade que os debates envolvendo o que é informação faz com que profissionais da informação de todas as etnias, cores, gêneros, idade e plurais em gostos alimentícios sobre qual o melhor condimento para acompanhar o cachorro-quente, sintam vontade de se estapear, cutucar os olhos alheios e em casos mais extremos enforcar a criatura que ouse pensar diferente. Porém, gostaria de iniciar este estudo dizendo que não possuo o intuito de definir o que é informação, apenas busco mesclar conhecimentos de duas profissões que exerço (bibliotecário e ilustrador, como bibliotecário represento a informação produzida, como ilustrador produzo a informação enquanto represento algo).
A representação de imagens por parte dos profissionais da informação foi, é e continua sendo causadora de diversos problemas, desde interpretações a falta de elementos descritivos suficientes para descrevê-la e caracterizá-la. Porém, a representação aqui tem um novo sentido, não se trata de representar a informação contida na imagem, mas sim como uma imagem representa a informação.
Foram selecionados três periódicos direcionados a publicações na área da ciência da informação, com o intuito de analisar a arte gráfica das capas das revistas, na tentativa de buscar uma definição com base em como a informação é representada nessas imagens. Além disso, vale ressaltar que foram escolhidas revistas não por suas qualificações, mas sim com base na ideia central do texto, a ilustração, a princípio foram descartadas revistas como a Revista Acervo do Arquivo Nacional, pois cada edição traz em si uma temática diferente e suas representações gráficas alteram frequentemente, outro ponto de exclusão foram periódicos que não possuem capas disponíveis para consulta, pelo menos não de maneira oficial. Dito isso foram selecionadas as capas das últimas edições de três revistas: Brazilian Journal of Information (BRAJIS) da Universidade Estadual Paulista (UNESP); Informação & Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL); Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT).
Claro que poderia apenas utilizar a famigerada e antiga arte da malandragem ao selecionar imagens aleatórias disponíveis no Google Imagens, porém como o intuito deste breve estudo é refletir sobre o que é informação levando em consideração a representação gráfica, me pareceu prudente levar em consideração imagens selecionadas por profissionais da informação, mesmo que não criadas pelos mesmos, devem ter passado pelo crivo da posse de elementos capazes de representar a informação.
Irei descrever imagem por imagem da maneira mais detalhada que consigo para facilitar leitores de tela em caso de uso, e depois discorrer sobre as três. O vigésimo sétimo volume da revista Informação & Informação de 2022, possui o fundo em cor azul-petróleo, com nuances quase imperceptíveis de outras tonalidades de azuis-escuros, ao centro pode ser notado um símbolo que se assemelha a nona letra do alfabeto, letra I em azul-escuro, com oito círculos formando uma espécie de espiral, crescendo conforme se afastam do centro, quatro dos mesmos em tonalidades diferentes em gradação de azuis-claros, os outros quatro restantes possuem padrões de componentes de computadores, como os de uma placa mãe ou memória RAM, com seus conectores em azul neon. Entre o plano de fundo e o plano primário, no canto superior direito é possível notar alguns outros círculos que parecem simular bolhas, subindo e fugindo da página. Com o título escrito em branco.
A segunda revista Ciência da informação em seu cinquentésimo primeiro volume de 2022, traz o fundo branco, com um cubo semelhante a um cubo de Rubik também conhecido como cubo mágico, um quebra cabeça em forma de cubo, além disso, dentro de alguns dos quadrados que formam essa espécie de cubo mágico todo azul-escuro, pode se notar alguns símbolos em branco, sendo os mais visíveis, um ícone do que aparente ser o rosto e o tronco de um ser humano do sexo masculino, uma lupa que amplia um gráfico de barras, um aperto de mãos, balões de conversas, um grupo de pessoas e um frasco químico. Com o título escrito em azul.
Já a terceira revista, BRAJIS, traz o título em preto com a letra I, em vermelho, o fundo azul-escuro, e um bule de chá amarelo quase esverdeado, anexado em uma parede bege chapiscada, um item de decoração, o bule, está servindo um líquido marrom, para um espaço vazio na parede, onde pode se notar a presença de cola remanescente, pelo formato apostaria se tratar de uma xícara removida pelas mãos curiosas do tempo ou quem sabe de uma pessoa.
A primeira observação é a presença da cor azul de modo amplo, quase gritante, digo quase, pois o azul, uma cor fria, transmite a noção de profundo, amplo e infinito, e isso causa sensações de paz, vazio e silêncio, reformulando, o azul é utilizado de modo quase audível. Segundo a cientista social alemã Heller (2013), “O azul é a principal cor das virtudes intelectuais. Seu acorde típico é azul e branco. Essas são as principais cores da inteligência, da ciência, da concentração”. As virtudes intelectuais, da razão, até mesmo chamadas de dianoéticas por Aristóteles apud Silveira, (2000), são cinco, “a arte (teknê), a ciência (epistémê), o discernimento (phrónêsis), a sabedoria (sophía) e a inteligência (noüs)”. Esse empréstimo do vasto acervo de memórias do filósofo grego Aristóteles, são empregadas aqui, pois intensificam a noção de Heller, em relação a tudo o que o azul representa. Nota se que a utilização da cor azul para representar a informação não é um acaso, pode até ser utilizada de maneira subconsciente, mas está ligada diretamente ao cognitivo, ao foco, ao aprendizado, ao conhecer, ao saber, ao questionar e ao abstrair. Outro ponto proposto pela autora, é sua combinação com o branco observável na segunda revista analisada neste texto.
O cubo de Rubik desenvolvido em 1974, pelo húngaro Ernő Rubik, funciona como um quebra-cabeça tridimensional, muitas vezes associado a um simples brinquedo infantil, o objeto desenvolvido pelo professor de arquitetura possui características simbólicas interessantes. Rubik enxergava o cubo como “uma peça de arte, uma escultura móvel simbolizando contrastes da condição humana: problemas desconcertantes e inteligência triunfal; simplicidade e complexidade; estabilidade e dinâmica, ordem e caos” (Florentino et al., 2021, p. 34214). O primeiro ponto é que o cubo é um quebra-cabeça, que exige raciocínio do ser que o manipula, além disso, um quebra-cabeça representa a busca pela solução, o encaixe de peças faltantes. Para o criador do cubo, a desordem, a organização, a conquista pelo intelecto. Para a informação podemos destacar a construção, sem ordem natural universal, onde cada um constrói seu próprio sentido, mas tomando forma na cabeça do indivíduo.
Os símbolos presentes no cubo, podem representar a busca no caso da lupa; a interação social no caso do grupo de pessoas, e a própria sociedade; a comunicação representada pelos balões de mensagem ou conversa, a troca; o estudo, conhecimento e experiência no caso do frasco químico.
Na terceira imagem temos o bule de chá aparentemente feito de porcelana, o plano central da imagem, porém o que me chama atenção na imagem não é o bule, mas a ausência da xícara, o bule servindo o chá poderia representar a distribuição de algo, mas a ausência da xícara, pode indicar uma distribuição não selecionada a quem, como se algo fosse servido na espera de que qualquer um possa vir beber.
As letras I, em destaque em duas das capas, parece apenas um aceno ao I presente na palavra informação. Já os círculos se afastando e crescendo do centro indica dispersão; o padrão de componentes tecnológicos flerta com a informação no ambiente digital e a modernidade; os círculos subindo como bolhas e escapando das páginas para o além-infinito me transmite a mensagem de um mergulho seguido de reação.
Através dos elementos artísticos presentes nas imagens que representam informação aqui analisadas, é possível notar que a mesma é representada em viés cognitivo, portanto imersiva, não discordo que informação seja cognitiva, mas discordo que seja apenas cognitiva. Nota se também um flerte com o descompromisso individual, a informação não tem alvo específico para atingir, digo específico no sentido de um indivíduo já denominado, portanto também é expansiva, um tiro no escuro sem intenção de acertar um alguém, mas sim alguém. Está relacionada ao estudo, a experimentação, ao compartilhamento, a transmissão de algo, a recepção de algo, difícil até de diferenciá-la da própria ciência. Pode ser vista também como uma busca em águas profundas que emitem bolhas de ar, resquícios do mergulho.
Claro que a análise de uma única pessoa não é capaz de delimitar o que é informação, principalmente por meio de artes visuais, que podem ser interpretadas de milhares de maneiras diferentes, muito menos com base em apenas três amostras, ciência é algo que se produz em conjunto, o que busquei neste estudo não foi propor uma definição de informação, mas sim a possibilidade da utilização da representação pela arte gráfica como um ponto plausível de interpretações das coisas do mundo. Visto isso, acredito que as artes, e isso inclui as artes visuais, possuem um papel fantástico na descrição, de modo quase imperceptível do que ela busca representar, basta apenas olhar e sentir.
BIBLIOGRAFIA
FLORENTINO, A. R.; et al. Cubo Mágico: um recurso didático-pedagógico para a sala de aula de Matemática. Brazilian Journal of Development, São José dos Pinhais, v. 7, n. 4, p. 34211–34222, abr. 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/27579. Acesso em: 10 set. 2023.
HELLER, E. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão (Wie Farben auf Gefühl und Verstand wirken). São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
SILVEIRA, D. As Virtudes em Aristóteles. Revista de Ciências Humanas, Frederico Westphalen, v. 1, n. 1, p. 41-71, 2000. Disponível em: https://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/issue/view/39/showToc. Acesso em: 10 set. 2023.