Non Dormo Ancora

ANOMALIAS BIBLIOTECONÔMICAS - ANOMALIA #92 (O LIVRO PERDIDO)

Igor Mendes - 19 de março de 2024

Caso ainda não tenha se deparado com esta anomalia, não se preocupe, você irá. Toda biblioteca possui pelo menos um livro nesta situação. Perdido há tanto tempo que ninguém nem mesmo se lembra quem foi que o perdeu, ou recentemente perdido, tão recente que a busca por essa novidade é renovada a cada meia hora, assim reforçando o sentimento de frustração causado pela anomalia.

Capaz de deixar qualquer bibliotecário perplexo e com cara de idiota, principalmente quando anexado aos seus ombros se encontra um usuário de olhos atentos e curiosos, à espera de um livro que deveria estar ali, mas não está. 

Ninguém de fato sabe como desaparece, o porquê desaparece, e nem mesmo o que faz enquanto está desaparecido. Passa as tardes assistindo TV, deitado na cama e comendo pipoca, enquanto segue foragido da polícia do livro? Navega em seu iate particular ao lado de sua amante de descendência francesa, Camille, cogitando abandonar esposa e filhos ainda pequenos. Nunca saberemos. 

Com base em algumas observações observantes, fui capaz de observar a presença de alguns fatores capazes de alimentar a anomalia 92. Listados a seguir, não por grau de contribuição para com a anomalia, ou por média alcançada durante o vestibular, mas sim pela aleatoriedade que me cabe. Escrevo e disponibilizo esta lista na esperança de que futuramente possa auxiliar na minimização desta anomalia.

Número 1- Simples descuido por parte dos profissionais (estagiários) envolvidos na devolução dos livros na prateleira; 

Número b- A clássica sacanagem, que consiste em esconder o livro, seja para uso futuro ou apenas para ver o reinar do caos; 

Letra 3- Criaturas extradimensionais com sede insaciável de conhecimento humano e romances semi eróticos escritos por mulheres de meia-idade; 

4- Usuários proliferadores de papinhos miguelantes¹ que juram de pé juntos que não estavam colocando o livro na prateleira, mesmo que você tenha visto ele fazendo isso, e pedido mais de três vezes para não fazer isso, pois o resultado pode ser exatamente a anomalia aqui debatida. 

Outro ponto a ser ressaltado é que, sim, é impossível encontrar o livro perdido, mesmo que este livro ainda esteja no acervo. Embora muito se debata sobre o mito da contagem e/ou conferência e/ou reorganização total do acervo, sabe-se dos perigos envolvendo essa prática suicida desde os tempos de Eratóstenes, que embora tenha sido capaz de calcular a circunferência da Terra por volta de 240 a.C., ficou calvo ao tentar reestruturar todo o acervo da biblioteca de Alexandria. Essa façanha, que supostamente pode ser alcançada, foi alvo de tentativa de muitos, a qual os pouquíssimos sobreviventes enlouqueceram, o que torna os relatos sobre essa prática ínfimos e nem um pouco confiáveis.